Gostaria de partilhar convosco uma situação de bullying que tenho estado a acompanhar nos últimos meses.
A Rafaela (vou chamar-lhe assim) tem 10 anos e reside numa aldeia no interior de Portugal. Os pais estão separados há vários anos e os contatos com o pai são pouco frequentes, como tal, o seu único apoio tem sido a sua mãe.
Esta criança foi sempre uma excelente aluna, tem um sorriso meigo e maravilhoso mas por detrás desta aparente alegria esconde-se uma menina frágil, com baixa autoestima que tem sido frequentemente humilhada, ameaçada, excluída, agredida por vários colegas, alguns da sua idade e outros um pouco mais velhos.
Desde o 2º ano que a Rafaela é vítima de bullying, com uma frequência (por vezes diária ou várias vezes por semana) tem sido agredida verbal e fisicamente pelos seus pares, vejamos algumas das agressões que tem sido alvo:
- aparece e casa com a roupa estragada e suja (incluindo marcas de pontapés nas costas e barriga);
- chamam-lhe nomes como “caixa de óculos”, “quatro olhos”, “pote de banha” ou “baleia”;
- durante o almoço, no refeitório, cospem na sua comida ou passam-lhe rasteiras enquanto transporta o tabuleiro com o almoço;
- após o almoço, obrigam-na a correr enquanto é perseguida e ameaçada por colegas mais velhos, chegando muitas vezes até a vomitar;
- empurram-na para poças de água e lama, obrigando-a a rebolar no chão;
- colocam objetos de colegas na sua mochila (sem que ela se aperceba) e depois acusam-na de os ter roubado;
- roubam-lhe o lanche ou simplesmente a obrigam a deitá-lo fora.
Durante vários meses tentou esconder o que se passava de todos, até que a mãe descobriu o que se estava a passar e contatou a direção da escola, a situação foi menosprezada tendo lhe sido dito que se tratavam de meras brincadeiras entre crianças e como tal, algo perfeitamente comum, nada fazendo para proteger a Rafaela de tais comportamentos.
A mãe resolveu estar mais atenta… a situação aparentemente ficou mais calma, no entanto, passadas algumas semanas a Rafaela voltou a referir que continuava a ser agredida e perseguida na escola. Durante os intervalos, o que para os colegas eram momentos de alegria e brincadeira, para esta criança era um autêntico “jogo de gato e rato”, a fugir, a esconder-se dos colegas… eram minutos que pareciam intermináveis, acabando por se refugiar muitas vezes junto dos funcionários.
As notas começaram a baixar, os excelentes eram cada vez menos… até que começou mesmo a ter negativas.
Nos últimos tempos, a mãe da Rafaela tem-se desdobrado em contatos com a direção da escola e com os próprios funcionários, pedindo-lhes que estejam mais atentos ao que se passa com a sua filha durante os intervalos mas, com frequência, ouve frases do tipo, “Acontece isso com todos ou acha que é só com a sua filha?” ou “A Rafaela é muito mimada, fica logo chateada quando se metem com ela”.
Atualmente, esta criança frequenta o 5º ano numa turma onde estão alguns dos alunos que nos últimos anos têm sido seus agressores. Tendo em conta o que tem sido abordado, partilhado e refletido no “MOOC – Bullying em contexto escolar”, gostaria de vos lançar um desafio.
Quais as estratégias mais adequadas para intervir nesta situação? O que podem (leia-se, devem) fazer as direções das escolas, os professores, os funcionários e as famílias neste tipo de situações?